Perfil
Nome: Princesinha
Idade: 25 anos
Moro em: São Paulo
Minha História: Sofri abuso sexual na infância. Durante 14 anos preferi acreditar que esse
episódio isolado na minha vida não tinha me afetado em nada, mas isso mudou
no final do ano passado, quando me permiti ser levada por Deus a lugares
onde ninguém antes havia penetrado, nem eu mesma. Essa tem sido a melhor e
mais difÃcil época da minha vida, por isso quero compartilhar minha
história com vocês, a forma como tenho aprendido a lidar com os sentimentos
confusos que ficam dentro da gente que sofreu esse tipo de agressão.
TUDO O QUE ESTÃ ESCRITO NESSE BLOG Ã PARTE DE UM DIÃRIO QUE COMECEI A FAZER EM AGOSTO DE
2004, SEM NEM IMAGINAR QUE UM DIA IRIA PUBLICÃ-LO. ALGUMAS COISAS MUDARAM, ESTOU MELHOR,
E POR ISSO DECIDI COMPARTILHAR TUDO O QUE APRENDI NESSE TEMPO QUE TENHO LIDO, PENSADO E
CONVERSADO SOBRE O ABUSO SEXUAL. SE VOCÃ DESEJAR AJUDA, ENTRE EM CONTATO.
Contato: guerreiravencedora@hotmail.com (e-mail e MSN)
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Créditos
Sexta-Feira, 17/09/2004
Agora vou entrar numa parte do livro que trata dos danos específicos em cada área, e como pode acontecer a cura em cada uma delas. Pra começar, quero descrever a percepção que tive do meu corpo. Lembro que com 9 ou 10 anos as pessoas começaram a notar meus seios crescendo e falavam pra usar soutien, essas coisas. Nessa mesma época é que meus seios foram tocados de forma indevida.
O resultado disso foi uma imensa vergonha dos meus seios. Só usava camiseta, quanto mais largas melhor para escondê-los. Na verdade acabava escondendo todo o meu corpo. Talvez porque eu tivesse a imagem de que se eu o escondesse as pessoas não veriam meu corpo de mulher e, não vendo, não o desejariam. Uma proteção para que meus seios nunca mais fossem tocados. Infelizmente eu acabei conseguindo. Durante toda a minha adolescência os garotos não olhavam pra mim. Eu não me arrumava, não tinha nenhuma vaidade e detestava me olhar no espelho...
"O abuso sexual danifica o corpo e a maneira como você pensa nele. Viver em um corpo que suscita recordações que você gostaria de esquecer é sentir-se horrivelmente capturado. Acontece que o seu corpo é permanente. Seu corpo lhe dá uma sensação de espaço. O abuso impede que as crianças aprendam os limites, nem que podem dizer não. Você é proprietário de seu corpo. Ao ter seu espaço invadido a criança desenvolverá uma atitude de persistência que lhe ensina a encontrar um caminho para sobreviver ao que acontece. É difícil cuidar de um corpo do qual você se sente tão desconectado."
"Tendemos a ter sentimento de vergonha quando fazemos algo desonroso ou quando algo desonroso foi cometido contra nós. Quando sentimos vergonha queremos nos esconder. Como você se esconde de seu próprio corpo?"
Acho que eu me escondi de meu dorpo de duas formas: usando roupas que o escondiam, evitando o espelho... e simplesmente não me importando com a aparência dele. Estava engordando mas não fazia nada para controlar isso, afinal, o corpo era o de menos, e me consolava dizendo que quem gostar de mim tem que ser pelo que eu sou, não pelo exterior!
"Talvez você tenha crescido carente de afago, e a única vez em que você o experimentou foi durante o abuso. Você ansiava pelo contato físico e se sente traído por esse desejo"
Existe um desejo profundo no meu ser de obter contato físico com as pessoas, de receber carinho... imagino que tb deveria ser assim quando eu era criança. Não tenho lembranças de estar no colo de alguém recebendo cafuné, afago... será que as pessoas em geral se lembram dessas coisas? Não que eu tenha sido agredida, e tal... a impresão que eu tenho é que eu era ignorada quando criança...
Por muito tempo eu acreditei que meu corpo é "lixo inútil", sem valor algum. No auge da crise no ano passado eu acabei com ele, comi muito e muito mal, engordei muito... olhar no espelho era torturante, me fazia lembrar de quão acabada eu estava. Entendo que a cura começou nessa área no ano passado, mesmo antes de ohar essas coisas através do abuso. Foi uma decisão profunda a de emagrecer. Precisei olhar para o meu corpo, ver que estava acabado e decidir mudar. Algumas pessoas disseram que eu fiquei diferente depois de emagrecer, mais alegre, mais solta... acho que deve ser isso mesmo, pois me sinto bem melhor qdo estou bonita!!!
Em resumo, creio que estou aprendendo a conviver com o meu corpo. É verdade que ainda não gosto dos meus seios. Mas pelo menos agora eu não tento escondê-los, e até os acho bonitos qdo coloco uma blusa mais justa. Eu precisava me reconectar ao meu corpo, e agora sinto que meu corpo tem sido expressão verdadeira da minha pessoa. O fato de eu ter emagrecido já fez com que eu me reconectasse.
Mesmo tendo melhorado eu percebo que em dias que estou meio tristinha eu não me arrumo muito. É um ciclo: eu sinto, dói... e eu me visto mal. O que preciso fazer para quebrar isso é agir de forma contrária. Vou tentar. Quando eu sentir alguma coisa que venha a me trazer dor, ao invés de não me arrumar vou sair de casa ainda mais linda, arrumada, maquiada... e assim quebro esse mecanismo de defesa autodestrutivo.
¤ Por: ¤ quinta-feira, dezembro 07, 2006 ¤